Alegria de verão
Não tenho a menor certeza,
nem nenhum embasamento científico na afirmação que faço agora, amigo leitor,
mas existe um contrato firmado entre as pessoas comuns e o verão.
Especialmente nos balneários,
cidades que foram feitas para veranistas, esse contrato está afixado nas
barraquinhas de côco, nos quiosques, nos botequins, nas carrocinhas de sorvete,
nas casas de sucos naturais.
O contrato exige que as
pessoas sejam extrema e externamente felizes, pois há sol, calor, férias,
carnaval. As vitrines exibem roupas coloridas e estampadas, como se as
respectivas fábricas aguardassem o ano inteiro para utilizar suas cores; novas
casas de sucos naturais abrem suas portas; a praia permanece cheia, de segunda
à segunda, das 7 da manhã até às 9 da noite; cabelos ficam louros; rostos ficam
vermelhos; o camelô que vende água fica rico sem precisar de mega sena.
Existe, porém, lugares onde
rasgaram o contrato e vivem sob a pena do infortúnio constante e essas pessoas
se castigam e são castigadas diariamente por sua escolha sombria e desanimada.
Bancos, repartições públicas, shopping centers, lojas de colchões, ônibus.
Aviso ao incauto leitor que nesses ambientes o contrato foi revogado e uma
enorme soma foi paga em forma de multa para que essas pessoas que ali estão,
por vontade ou necessidade, não façam parte dessa alegria besta que foi imposta
pelo verão e suas benesses. Não bate sol na loja de colchões, ao contrário, faz
um mecânico frio polar para dar ênfase à alvura das espumas; a caixa do banco
exibe uma já há muito desbotada marca de biquíni, conseguida a duras prestações
naquela clínica de bronzeamento artificial que fez promoção no Grupon e olha
com indisfarçável ódio para a mocinha que foi pagar uma conta para a mãe – que
está na repartição pública, despachando – antes de ir à praia; o motorista e o
cobrador estão literalmente morrendo de calor, sentados ao lado do motor
infernal do ônibus, que exibe a impressionante marca dos 48º graus dentro do
ônibus, mas ainda assim acham razoável ver pernas e colos de fora – pelo menos
isso. Seja solidário, não dê “bom dia” com tanto sorriso quando for a esses
lugares no verão, tenha piedade dessas almas que sofrem ao ver a alegria dos
outros pela janela e que, quando finalmente chega a sua vez de sorrir e de se
juntar aos alegres, nos sábados e domingos sagrados, chove.