sábado, 12 de janeiro de 2013

Alegria de verão

Crônica em homenagem ao centenário de Rubem Braga.


Alegria de verão

Não tenho a menor certeza, nem nenhum embasamento científico na afirmação que faço agora, amigo leitor, mas existe um contrato firmado entre as pessoas comuns e o verão.
Especialmente nos balneários, cidades que foram feitas para veranistas, esse contrato está afixado nas barraquinhas de côco, nos quiosques, nos botequins, nas carrocinhas de sorvete, nas casas de sucos naturais.

O contrato exige que as pessoas sejam extrema e externamente felizes, pois há sol, calor, férias, carnaval. As vitrines exibem roupas coloridas e estampadas, como se as respectivas fábricas aguardassem o ano inteiro para utilizar suas cores; novas casas de sucos naturais abrem suas portas; a praia permanece cheia, de segunda à segunda, das 7 da manhã até às 9 da noite; cabelos ficam louros; rostos ficam vermelhos; o camelô que vende água fica rico sem precisar de mega sena.

Existe, porém, lugares onde rasgaram o contrato e vivem sob a pena do infortúnio constante e essas pessoas se castigam e são castigadas diariamente por sua escolha sombria e desanimada. Bancos, repartições públicas, shopping centers, lojas de colchões, ônibus. Aviso ao incauto leitor que nesses ambientes o contrato foi revogado e uma enorme soma foi paga em forma de multa para que essas pessoas que ali estão, por vontade ou necessidade, não façam parte dessa alegria besta que foi imposta pelo verão e suas benesses. Não bate sol na loja de colchões, ao contrário, faz um mecânico frio polar para dar ênfase à alvura das espumas; a caixa do banco exibe uma já há muito desbotada marca de biquíni, conseguida a duras prestações naquela clínica de bronzeamento artificial que fez promoção no Grupon e olha com indisfarçável ódio para a mocinha que foi pagar uma conta para a mãe – que está na repartição pública, despachando – antes de ir à praia; o motorista e o cobrador estão literalmente morrendo de calor, sentados ao lado do motor infernal do ônibus, que exibe a impressionante marca dos 48º graus dentro do ônibus, mas ainda assim acham razoável ver pernas e colos de fora – pelo menos isso. Seja solidário, não dê “bom dia” com tanto sorriso quando for a esses lugares no verão, tenha piedade dessas almas que sofrem ao ver a alegria dos outros pela janela e que, quando finalmente chega a sua vez de sorrir e de se juntar aos alegres, nos sábados e domingos sagrados, chove.